domingo, 26 de dezembro de 2010

Formas de ver

Amar e gostar não são certamente a mesma coisa.
Quando “apenas” se gosta, o sentimento invade-nos e transmite-nos uma ansiedade e uma paixão que nos faz envolver numa cegueira, a qual não nos permite identificar tudo aquilo que não nos agrada, que delicadamente gostamos de chamar de defeitos. Gostar, é bem mais puro dado que afastamos todos os pontos negativos e cingimo-nos ao que é mais importante, podemos até mesmo cogitar a existência de um lado escuro e sombrio, mas não queremos acreditar que ele existe. A ilusão toma conta de nós e transforma-nos em marionetas cheias de paixão em que nos despimos e sentimos dominados em todos os momentos, como se o mundo fosse composto pelas fracções de segundo que nos abraçam... mas o tempo, esse não para... pois o tempo passa a correr e o momento é o que está a acontecer, pois nada mais lá fora importa. Isto é estar apaixonado, isto é entrega com sinceridade em que não é preciso falar, apenas sentir... pois as palavras mentem, mas as atitudes não.

Amar… amar definitivamente é um caminho que se percorre de mãos dadas, em que os ventos e as chuvas que assombram o ser, não poderão ser mais fortes que a aliança entre as duas mãos. Há que caminhar ao mesmo ritmo, pois quando um anda mais rápido que o outro, ambos se afastam e os braços desentrelaçam-se... As diferenças sentem-se, e as disparidades entre ambos iniciam um processo lento e doloroso de separação das mãos outrora unidas, onde o nevoeiro desce e perturbando a visão e a lógica... É nestas ocasiões que o azeite se separa da água e o mesmo surge à tona, trazendo consigo a pura verdade. Só os mais fortes param de caminhar voltando a trás para unir as mãos de novo… Mas nem sempre é o mais forte que tem de dar um passo atrás, pois por vezes é o elemento mais fraco que tem de encontrar forças e dobrar a sua velocidade. Nas situações adversas é que realmente nos conhecemos e sabemos do que somos capazes.

Mas o amor não é transportar, o amor é uma caminhada a dois, em que ambos por indeterminadas vezes voltam atrás para dar a mão e trazer aquele que está mais atrás… assim sendo, ambos estão a remar no mesmo sentido, que é o que realmente importa, pois muitas pessoas perdem a bússola e não caminham em frente, mas andam às voltas. Se não se sabe para onde ir, qualquer caminho serve... se qualquer caminho serve, então, deixemo-nos levar.

Paixão'10

2 comentários:

  1. Pessoa diz:

    O amor, quando se revela,
    não se sabe revelar.
    Sabe bem olhar p'ra ela,
    mas não lhe sabe falar.

    Quem quer dizer o que sente
    não sabe o que há de dizer.
    Fala: parece que mente.
    Cala: parece esquecer.

    Ah, mas se ela adivinhasse,
    se pudesse ouvir o olhar,
    e se um olhar lhe bastasse
    pra saber que a estão a amar!

    Mas quem sente muito, cala;
    quem quer dizer quanto sente
    fica sem alma nem fala,
    fica só, inteiramente!

    Mas se isto puder contar-lhe
    o que não lhe ouso contar,
    já não terei que falar-lhe
    porque lhe estou a falar...

    Muito bom Tiago!

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  2. Sem dúvida que amar é um caminhar juntos, mas é um caminhar juntos tanto nas adversidades como nas alegrias e não desistir quando o outro demonstra as suas fragilidades!
    É iluminar/mostrar o caminho quando o outro está meio perdido e sufocado!
    O amor é partilha, é carinho, compreensão e respeito por nós e pelo o outro, é aceitar as diferenças, é comunicar, ouvir e saber ouvir.
    No amor há espaço para o outro discordar, sem atacá-lo.
    No amor perdoamos, cedemos, cuidamos, calamos quando sabemos que nos vai ajudar e falamos com o mesmo objectivo.
    O amor interessa-se pelo bem-estar do outro (quer ver a pessoa feliz e realizada). Preocupamo-nos com o outro, como nos preocupamos connosco.

    STG

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